Arquitetura do Bairro dos Olivais — a história e o legado
O bairro dos Olivais não é como era na década de 1950. Muitos olivais, quintas e casas faziam parte do bairro. Como o conhecemos hoje, só começou a ganhar forma em meados de 1960, seguindo os princípios da Carta de Atenas (1933), um documento que definia qual o conceito de urbanismo moderno. Mas, como se transforma um bairro tradicional com olivais e quintas num ícone do urbanismo moderno?
A construção ambiciosa beneficiou significativamente do apoio do Estado Novo, que disponibilizou algum alívio financeiro, principalmente devido à escassez de habitação e à necessidade de começar a construir novas casas para os habitantes de Lisboa.
A influência da Carta de Atenas no Bairro dos Olivais
A Carta de Atenas influenciou de forma indubitável o planeamento e urbanismo do bairro dos Olivais, bem como a habitação. Havia a indicação inequívoca da necessidade de oferecer habitação digna para todos, com espaços habitacionais saudáveis e bem projetados.
Para além destes aspetos, a criação de zonas funcionais bem delimitadas para residência, trabalho e lazer era fundamental para a melhor qualidade de vida dos habitantes.
Os espaços verdes e a mobilidade foram fatores igualmente importantes retirados deste documento, que influenciaram fortemente as diretrizes da construção do Bairro dos Olivais.
A cidade dentro da cidade, nos Olivais
O bairro dos Olivais, localizado na zona norte de Lisboa, representa um marco significativo na história do urbanismo e da arquitetura portuguesa. Na década de 1960, o projeto dos Olivais foi uma tentativa de criar uma “cidade dentro da cidade” – uma comunidade autossuficiente que fornecesse aos seus residentes todas as comodidades necessárias, desde habitação a comércio, escolas e espaços de lazer. Este conceito está fortemente enraizado nos princípios do modernismo, que valorizavam a funcionalidade e a eficiência, ratificados pela Carta de Atenas.
A Igreja Matriz de Santa Maria dos Olivais
É impossível falar dos Olivais e da sua arquitetura e não mencionar a Igreja Matriz de Santa Maria dos Olivais, que desempenha um papel fundamental na história do bairro. Fundada no início do século XIV em estilo gótico, foi acumulando uma história rica ao longo de mais de 600 anos. Algumas datas importantes em sua história incluem:
A Igreja Matriz de Santa Maria dos Olivais é um edifício retangular com múltiplos telhados e uma fachada principal destacada por pilares de pedra, um portal central e um grande janelão. No seu interior, encontramos uma única nave com paredes imitando mármore, um teto abobadado decorado, um coro elevado e duas capelas retangulares. A capela-mor é rica em detalhes, com pinturas, azulejos, um altar dourado e um camarim com trono.
Esta igreja é um importante marco arquitetônico nos Olivais, representando a rica história da região e servindo como local de culto e celebrações, como a Festa da Padroeira em maio, que une a comunidade.
A escolha estratégica da localização da igreja entre Sacavém e o Tejo foi feita para atender às necessidades da população, que enfrentava dificuldades para chegar às igrejas de Lisboa e Sacavém devido às más conexões e à distância considerável, especialmente durante os invernos rigorosos.
Planeamento urbano dos Olivais
Os edifícios dos Olivais são geralmente caracterizados pelo estilo modernista. O modernismo, movimento arquitetónico que surgiu no início do século XX, defendia a utilização de novos materiais e tecnologias de construção, bem como a simplificação das formas e a abolição de detalhes desnecessários.
Nos Olivais, isto traduziu-se em edifícios de apartamentos funcionalmente projetados, com ênfase em linhas retas e formas geométricas. O objetivo era maximizar o espaço disponível, proporcionando um bom nível de conforto e luz natural, simultaneamente.
O planeamento urbano dos Olivais reflete também as ideias modernistas. A disposição das ruas foi planeada de forma radial, uma abordagem que era bastante avançada para a época e que visava melhorar o fluxo de trânsito e facilitar a orientação dentro do bairro.
Espaços verdes dos Olivais
Paralelamente ao planeamento urbano, foi dada grande importância à criação de espaços verdes, com a inclusão de vários parques e áreas de lazer, em linha com o conceito de “cidade-jardim”. Este conceito era muito popular no planeamento urbano do século XX, que promovia a integração de áreas naturais no ambiente urbano.
Estes espaços contribuem em grande medida para a melhoria do nível de vida, da qualidade do ar, bem como das sombras proporcionadas pela florestação, meticulosamente delineada pela arquitetura paisagística.
O Bairro dos Olivais — um marco na história da arquitetura
O Bairro dos Olivais tem uma arquitetura estruturada de uma forma funcional, que privilegia o morador e os seus visitantes. Foi um marco na inovação em termos de planeamento urbano em Portugal e deixou um legado importante. É fulcral continuar a falar da história dos bairros visto isso conferir um valor superior e sensibilizar para a necessidade de preservá-los e requalificá-los.
Em breve, estaremos a desenvolver projetos nos Olivais, contribuindo assim para o crescimento e desenvolvimento do bairro. Fique atento para mais informações sobre os projetos que estão por vir.